A primeira proposta de trabalho consistiu na elaboração de duas composições utilizando as técnicas e elementos básicos da comunicação visual, tendo por base uma música. A música que escolhemos foi "Broken Strings", cantada por James Morrison e Nelly Furtado.
Após ouvir a música inúmeras vezes, de forma a percebermos melhor o seu significado e que sentimentos nos transmitia, começamos o processo de criação da nossa composição, que não teve por base nenhuma imagem ou fotografia.
Background Para iniciar a elaboração da composição, baseamo-nos igualmente na fase inicial da música, a qual é mais calma, apesar de ter uma certa carga dramática. Utilizando o Photoshop, começamos por criar o background, recorrendo à linha como elemento básico da comunicação visual, de modo a criar a sensação de direccionalidade, ao mesmo tempo que o uso do preto e do laranja para cada um dos conjuntos de linhas, apela a uma carga emotiva e impulsiva, que caracterizam as emoções iniciais da composição musical.
Composição final em campo circular
Ainda no Photoshop, utilizamos a Brush Tool, criando duas formas circulares pretas. Ao exportar a imagem para o Freehand, recorremos às suas ferramentas para descompor os círculos pretos, o que permitiu conceber várias formas abstractas, descompondo também várias cores. A redução do que vemos a elementos visuais básicos constitui também um processo de abstracção, isto é, uma simplificação que tende a possuir um significado mais intenso e destilado. O facto de estas formas estarem dispostas no lado direito do campo, dá a sensação de movimento, de algo externo que se aproxima da rigidez patente nas linhas, ameaçando essa estabilidade e linearidade.
As cores vivas das linhas significam o amor, a cordialidade e a vida, contudo, simultaneamente, também transmitem o perigo da estabilidade da relação que pode conduzir à monotonia quotidiana dos dois amantes.
As linhas negras, por contraste, têm uma conotação negativa de frieza, anunciando um corte (“broken strings”) ou até mesmo o fim do relacionamento amoroso, ao mesmo tempo que surge das trevas um novo mundo paralisado e congelado, capaz de destruir todo o colorido da vida das personagens. É esse mesmo mundo desfragmentado que suscita nas personagens um turbilhão de emoções que as impedem de sentir (“you can´t feel anything”) e que lhes barram o caminho, o caminho que converge num ponto só.
A pouco e pouco, os amantes vão-se resignando ao seu destino (“let me hold you for the last time, it´s the last chance to feel again), acabando as linhas firmes e sólidas por serem evadidas pelo abstracto do quotidiano.Se as linhas pretas desaguam nas linhas cor-de-laranja, estas redireccionam as águas para a espiral vermelha, espiral esta que tem vários caminhos que não se tocam, ou seja, destinos que se desencontram. Um desencontro marcado pela incapacidade de perdoar (“I tried to forgive but it´s not enough to make it all okay”) que, mesmo que tentem ignorar, acabam por viver numa realidade irreal (“when i love you rings so untrue”).
A espessura das linhas por si só também tem uma intenção: as linhas pretas e laranjas adoptam uma postura mais robusta, uma vez que representam a uniformidade dos dois seres, que juntos se fortalecem. Porém com o aproximar de emoções desfiguradas e fragmentadas, a segurança das linhas apontam para o vermelho que, apesar de transmitir uma conotação quente e viva, se revela um campo susceptível, inseguro e incapaz de fomentar a estabilidade, certeza e firmeza dos sentimentos.
A música refere-se frequentemente ao fogo, ao forte viver das emoções e, portanto a escolha das cores para a nossa composição seguiu esse mesmo contexto. Optamos por não sobrecarregar o trabalho de uma multiplicidade de cores, uma vez que queríamos que as tonalidades mais quentes e emotivas se destacassem da simplicidade e leveza do branco, que representa nada mais do que os primórdios da relação.
Ao longo da música compreende-se a existência de uma evolução do estado da relação, concluindo-se de que já não vale a pena continuar porque só restam as poeiras e tudo ruiu entre eles (“we are turning into dust, playing house in the ruins of us”), portanto é como se corressem mas nunca avançassem (“it´s like chasing the very last train, when we both know it´s too late”).
Elaborado por: Marília Freitas e Rosário Costa